Fadiga por Compaixão

Alguma vez ouviu falar disto?
É o efeito negativo, nocivo, de trabalhar com aqueles afectados pelo trauma e pelo sofrimento. A fadiga por compaixão pode ter sintomas semelhantes aos do esgotamento.
A fadiga por compaixão atinge de forma particularmente violenta as pessoas empáticas e aqueles que já têm alguma predisposição para uma personalidade de tipo cuidador. Sabe quem são, aqueles que colocam sempre os outros antes de si mesmos. Infelizmente, os defensores dos animais são muitas vezes vulneráveis à fadiga por compaixão. Como uma doença silenciosa e traiçoeira, pode infiltrar-se nas vidas dos que vêem e vivenciam o trauma secundário, como por exemplo o trauma dos animais sujeitos a crueldade ou a abate desumano.
Ao longo do tempo, os defensores dos animais podem começar a tornar-se cínicos e a perder o sentido de humor, a isolar-se dos outros, a não demonstrar as suas emoções, a perder a auto-estima, a recorrer ao abuso de substâncias para adormecer os sentimentos, a entregar-se a despesas excessivas, comida em excesso, jogo e dependências sexuais, a ter pesadelos recorrentes, a expressar atitudes indiferentes, a ter menos interesse na higiene pessoal e na aparência em geral, a sentir uma perda de esperança e de significado, a ter dificuldade em concentrar-se, a parecer apáticos, a expressar raiva contra os autores dos crimes, a ficar tristes e incapazes de sentir prazer em actividades e a ter sintomas de problemas físicos crónicos. Se estes sintomas lhe parecem familiares, preste atenção.
Os defensores dos animais têm de estar cientes dos sintomas da fadiga por compaixão, porque esta pode alterar vidas (incluindo as vidas dos seus entes queridos), a menos que esteja implementado um plano de auto-cuidado. O auto-cuidado inclui a avaliação do que tem em mãos em termos de carga laboral (trabalho, família, voluntariado, compromissos, etc.). Repare no que realmente lhe consome tempo e energia. Veja quanto tempo por dia tem para si mesmo – uma verdadeira pausa (sob a forma de meditação, yoga, ou apenas descontracção). Delegue tarefas que outros podem fazer por si e diga “não” às tarefas quando não tem tempo ou energia. Avalie a quantidade de tempo que passa a olhar para imagens e histórias relacionadas com traumas nas redes sociais, que muitas vezes não são tidas em conta em termos da sua contribuição para a fadiga por compaixão. O exercício e uma alimentação saudável são outros recursos úteis.
Se os defensores dos direitos dos animais, sem o saberem, se tornarem vítimas e não fizerem nada para resolver a fadiga por compaixão, todo o movimento sofre a perda de outra voz pelos animais. É crucial que não se perca nem mais um par de mãos, nem mais um voluntário. As organizações sem fins lucrativos muitas vezes estão esticadas até ao limite em termos financeiros e com uma carga laboral que às vezes parece inultrapassável. Contudo, mesmo com estes constrangimentos, têm de reconhecer que é do interesse da organização cuidar dos seus voluntários para que possam continuar a realizar a mais nobre das tarefas – a de defender aqueles que não podem defender-se e falar por si mesmos.
Adaptado da tradução do original feita por Hermínia Castro.