“A toxoplasmose é uma zoonose (doença transmitida dos animais aos homens) causada por um protozoário chamado Toxoplasma Gondii.
Infelizmente, não faz parte da rotina médica o atendimento de zoonoses, mas para nós, médicos veterinários, é muito comum.
Nós lutamos todos os dias para derrubar o mito de que o gato é grande vilão da toxoplasmose; queremos mostrar à população como realmente acontece a transmissão. Realmente, não se pode negar, o Toxoplasma Gondii é um protozoário que tem seu ciclo de vida em diversos carnívoros, mas somente no felino ele é capaz de completá-lo e infestar o meio ambiente.
Mas há um caminho longo e cheio de barreiras para que uma pessoa adquira a doença diretamente do injustiçado gato.
Em 1º lugar, não são todos os felinos que têm predisposição para fazer a doença, mas somente aqueles que ingerem carne crua ou mal assada ou que são caçadores (baratas, ratos,etc.).
Para que ocorra transmissão para o gato, é necessário que o este coma a carne que contenha os cistos do toxoplasma.
Na maioria, são animais que tem acesso à rua e que estão com seu sistema imune comprometido.
Estima-se que apenas 1% – UM EM CEM! – da população felina albergue o protozoário.
Em 2º lugar, o gato, se estiver contaminado, só elimina o parasito nas fezes durante 15 dias e apenas uma vez em toda a sua vida.
Geralmente esta eliminação ocorre 10 dias após ter se infectado.
Em 3º lugar, para ocorrer a contaminação de pessoas a partir das fezes do gato, é necessário que estas fezes fiquem no ambiente por, NO MÍNIMO, 48 horas, e que depois sejam ingeridas; caso contrário, o ciclo não se completa!
Os gatos possuem o hábito de limpar-se, não deixando restos de fezes na pelagem, e enterram seus excrementos.
Porém, mesmo que não se limpem, já há estudos mostrando que não há viabilidade de infecção caso hajam fezes grudadas no pêlo do animal.
A possibilidade de contaminação do proprietário do gato pelo próprio gato é mínima ou inexistente.
Acariciar um gato e tê-lo como animal de companhia não representa perigo. Mordidas ou arranhões do gato também não transmitem toxoplasmose.
O mais comum é que a doença seja adquirida via ingestão de carnes mal cozidas, e também pela ingestão de verduras e legumes mal lavados e falta de higienização das mãos após o manuseio com terra.
Tendo em vista o supracitado, é por isso que há um alto índice de toxoplasmose em Portugal, pelo alto consumo de embutidos (leia-se sem cozimento), e também em Erechim, que é o lugar com maior índice de toxoplasmose no planeta, pelo alto consumo de carne suína mal cozida.
Ademais, somente pessoas imunodeficientes ou as mulheres grávidas que nunca tiveram contato com o parasita (leia-se sem formação de anticorpos) formam o grupo de risco.
Se fizermos sorologia numa determinada população, a maioria será positiva para toxoplasmose, não pelo fato de terem a doença, mas sim porque, em algum momento da vida, houve contato com o cisto do parasita e o corpo produziu anticorpos, e estes anticorpos permanecem para o resto da vida.
Portanto, que fique bem claro que beijar, abraçar, dormir com gatos
NÃO LEVA À TRANSMISSÃO DA TOXOPLASMOSE!
A prevenção da toxoplasmose se dá com boas práticas de higiene, tais como limpar a caixa de areia dos felinos diariamente, não ingerir alimentos crus ou mal-cozidos sem prévio congelamento por 48 horas, não ingerir leite in natura e embutidos não fiscalizados, limpar cuidadosamente qualquer material que entre em contato com carnes cruas, e fazer uso de luvas ao realizar jardinagem.
Além disso, evite que seu gato tenha acesso á rua e, é claro, o animal deve ser vacinado, desparasitado interna e externamente e examinado regularmente por um médico veterinário para que se evite qualquer doença.
Na dúvida?
Faça uma sorologia, sua e do seu felino, para toxoplasmose.
E por favor, não abandone seu animal de estimação!”
Dra. Claudia Batistella Scaf